domingo, 30 de maio de 2010

Ele saiu da vida para entrar...No céu...

Deus consola Vargas e cogita colocá-lo no lugar de São Pedro
- Onde estou? Que lugar maravilhoso é este? Esse
homem com essa barba me olhando deve ser o
presidente daqui.
Deus:
Eu presidente? Não. Eu sou o dono de tudo, e a
propósito, cuidado com o que possas pensar, pois eu
leio todos os seus pensamentos.
Vargas:
Agora me lembro, eu morri, com o tiro que dei no peito
lá no Catete, agora estou no céu e Deus veio me
receber. Que honra! Será Que Mereço?
Deus:
Claro que merece. Como eu poderia deixar de receber
“pessoalmente”, o “pai dos pobres” e a “mãe dos ricos”,
o semideus Getúlio Vargas.
Vargas:
Fico muito honrado, mas tenho muitas reclamações a
fazer sobre o pessoal lá de baixo, pois eles me
abandonaram.
Deus:
Conte-me tudo o que aconteceu Gegê, pois acabei de
chegar de férias, estava no Havaí, pegando umas
ondas, desde 1950, quando você ainda era presidente
e o Brasil não precisava mais da minha proteção.
Vargas:
Então o senhor não conheceu o governo Dutra? Ele foi
marcado por mais de 60 greves e intensa repressão ao
movimento operário. Dutra congelou o salário mínimo,
fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores
(CGT), fez intervenções em sindicatos, até os jogos ele
proibiu.
Deus:
Que absurdo! Eu gostava de ir ao cassino às vezes.
Mas o Dutra elaborou a Constituição de 46, com a
plenitude dos direitos individuais e etcétera e tal.
Vargas:
Pode até ser. Mas eu venci as eleições de 1950,
implantei grandes empresas públicas, como a
Petrobrás, que monopolizou a exploração dos
recursos naturais. Como adversário do imperialismo,
fui apoiado por setores do empresariado nacional, por
grupos nacionalistas do Congresso e das Forças
Armadas, pela UNE e pelas massas populares
urbanas. Criei em 1952 o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), com o objetivo
de promover o desenvolvimento industrial, e também o
Instituto Brasileiro do Café (IBC). Infelizmente, eu não
conseguiria renunciar, pois a pressão era muita. Por
isso achei que a solução melhor, seria me
matar. E agora? O que será do meu povo?
Deus:
Calma Gegê, eles sobreviverão muito bem,
pois o novo presidente, o Juscelino
Kubitschek, construirá um país moderno e
abrirá as portas para as indústrias
multinacionais. Jânio Quadros vai tentar te
imitar, comendo com seus eleitores e os
abraçando, vai proibir as rinhas de galo e o
uso de biquíni em desfiles. . . o que é uma
pena! Mas renunciará, alegando presença de
“forças terríveis”. Sobrará para o pobre do
João Goulart, a coisa vai pegar fogo e os
movimentos pró e anti-revolucionários
eclodirão no país. A urgência de reformas
sociais será uma constante. Em um cenário
tenso e cercado de contradições, os militares
chegarão ao poder, instaurando um governo
centralizador. Será a ditadura. Ainda bem que
você se matou antes, Getúlio. A propósito,
Gegê, aceitas um chimarrão?

Erika Rodrigues

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